domingo, maio 31, 2015

os corredores habitados



a eclosão das lâmpadas nos motins da pele


eclosão: acto de sair à luz, o desabrochar  eclodindo
              viagem sentimental nas fotonovelas

lâmpada: alumiação com torcida de azeite
                sem torcida dizendo-se eléctrica
                estática na corrente dos pelos na superfície da derme   

motins: alabastros de sangue, vertigem
             zonas côncavas e subterrâneas
             flores amargas 

pele:  invólucro de certos frutos  
          cobertura dos ossos da mente humana
          epiderme luminica da lâmpada ainda acesa
          do amor à superfície   


            

quarta-feira, maio 27, 2015

os corredores habitados



  O choro da terra não deita lágrimas


choro        lágrima desajeitada encostada à verde face
               
terra         sumptuosidade  apocalíptica  da floresta
                 abalo no âmago do braseiro
                 tentação circular em angustiada procura
                


deita         alegria da manhã
                 desmultiplicada em cascata

lágrimas    fósforos a arder no silêncio da terra
                 cascata de saudades sem soluções à-vista 



domingo, maio 17, 2015

os corredores habitados



não é irreal a minha força
nem abstracto o meu coração

é na terra que o amor se abre
nas tuas ancas  ao meu ardor

o além do meu desejo
é a a terra vermelha que piso

quando acordo
estou-me a ver ao espelho
um sulco da criação

sou o criado no infinito a acordar
aqui, a suave memória
ao alcance dos ócios
destas e outras palavras



terça-feira, maio 12, 2015

os corredores habitados



no laranjal
abro a garganta ao sabor 

no laranjal
o verde alicia o sol
para o ventre das folhas

para o sol entrar nas folhas
amanhece um ramo

o sol constipa-se quando
encontra a solidão

se estou só no quintal
não estou só, ondeio:
- claridade é a sombra do outro





sexta-feira, maio 01, 2015

O algoritmo da palavra

XVI

escrevo sempre
como se estivesse na própria viagem estando
- e como sabemos, estar vivo é estar no passado

interrogo-me:
 - como posso escrevendo viver
da escrita em percurso
ir ao horizonte de mim?

acção  de nexos e perplexidades circulando 
amplexos de uma jogada de dominó
no estuário circular da garganta ao corpo
dos olhos às embraiagens da comoção

à quietude invisível
roubar o pensamento intenso
à viagem pelos alabastros acústicos 
estender a mão ao rústico andamento

escrevo sempre
como se estivesse na própria viagem estando
- e como sabemos, estar vivo é estar no passado!